quinta-feira, março 15

Conversa que tive comigo

Ontem, quando sai da sardinhada, estava de rastos, ainda.
Resolvi vir para casa, dormir. Como sempre, fui para o quarto escondi as luzes e deitei-me.
De repente deu-me assim um flash, passaram as tais notas em rodapé: Estou enterrada viva. Morta. Num caixão que é este quarto, esta casa.
Não estou a viver. Fujo a esconder-me de tudo: da minha vida, das minhas filhas, do meu futuro. Cheia de medo e não faço nada.
Como quando o medo é tanto que nos paralisa, e nos impede de sair do esconderijo que julgamos seguro. Á espera que passe o perigo, a ameaça.
Á espera.
Nunca na minha vida esperei, sempre fui impaciente demais para esperar, fazia e depois logo se via.
Ia andando por onde houvesse um caminho, mas esperar nunca. Podia sempre voltar para trás ou virar noutra esquina qualquer.

Esta não sou eu.
Então onde estou eu?
:
Agora levantei-me e sacudi o pó, – mais uma vez – e olho para todos os lados, será seguro sair?
Agora é hoje.
Não posso deixar morrer mais tempo.
Vou responder a todos os que me apoiam. Os que me vêem buscar para tomar conta de mim. São os que me amam, que me escolheram.
Tenho tanta sorte de ter amigos. Não os posso desiludir, tenho que voltar, eles sofrem com a minha ausência.
Vou-lhes mostrar que ainda posso tar viva, e que ainda posso voltar a dar-lhes o mesmo que sempre recebi deles. E que posso voltar a ser aquela que ainda consegui ser quando estive na Ericeira. A fazer a festa sozinha, a ajudar toda a gente, a fazer mais amigos a cada centímetro de chão.
Mas assim que chego aqui, a esta casa e fecho a porta, dá-se uma transformação estranha. Como se a casa fosse eu esventrada, eu por dentro com as tripas todas mal cheirosas ao léu.
Odeio esta casa vazia.
Odeio este caixão.
Adoro quando está cá alguém comigo, mas nem sempre as pessoas podem passar noites em minha casa. A Margarida veio cá ficar, acabámos a dormir no sofá, a Cristina e o Eduardo vieram cá entre compromissos e horas apertadas.
Até o meu ex- e a sua nova aquisição vieram do Algarve directos a minha casa para me tirar daqui e levar a jantar fora.
Mereço assim tanto?
Como é possível?
Mereço os telefonemas e msn's constantes: tás bem? Precisas de alguma coisa? Vêem de toda a parte e ás vezes até me surpreendem.
Mereço se responder, se me ajudar, se me deixar ajudar.
:



E depois há tu. Que já nem sei se não és uma fantasia minha, ou se és real. Tiveste cá, ou sonhei? Existes em mim, ou só passas ás vezes? Vais ser no futuro? E qual é o futuro, é hoje, ou é uma utopia?
No futuro hoje, desejo um companheiro de caminho, não me atrevo a dar 2 passos sem sentir alguém a meu lado. E se eu no futuro não precisar de ti, sonho/desejo? No futuro amanhã, claro.

E depois, confesso, deixa-me triste que não estejas no grupo dos meus amigos. Quando reparo nisso, fico com um gosto amargo na boca….
E se fosse há 20 anos podia contar contigo. Ficávamos no carro em frente á praia de S. Pedro a falar. E eu até podia chorar.
Então mudou muita coisa, não é?
Não me fazes mal, na verdade, neste momento é o único bocadinho de sonho que me resta. Que do resto de tudo nem me atrevo a imaginar, ou pensar, acho que nem olho.
Então és o que me resta de sonho, e és imaginação minha? Ou não? E quando eu acordar? Quem vai estar ao meu lado?

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